O Brasil se encontra em um lugar desconfortável quando o assunto é o tempo de espera para obter o visto de turista para os Estados Unidos. Atualmente, ocupamos a sétima posição entre os países com maior tempo de espera para a obtenção deste documento, segundo estudo realizado pela AG Immigration, escritório sediado em Washington, que se especializa em advocacia migratória.
Um Passeio pelos Dados do Departamento de Estado dos EUA
A análise foi realizada com base em informações do Departamento de Estado dos EUA e revela que a fila de solicitantes de visto atingiu níveis recordes em quatro das cinco cidades brasileiras onde o visto pode ser solicitado.
Em São Paulo, os solicitantes enfrentam o maior tempo de espera, que chega a impressionantes 615 dias – quase 20 meses. Porto Alegre segue em segundo lugar com 507 dias de espera, seguida por Brasília com 493 dias, Rio de Janeiro com 478 dias e Recife com 449 dias. De acordo com a AG Immigration, o Rio de Janeiro já vivenciou uma fila de espera ainda mais longa, mas os números atuais para todas as outras cidades são os mais altos já registrados.
O Brasil no Contexto Global
No cenário global, apenas seis países registram uma espera ainda mais longa: Colômbia, Haiti, México, Nepal, Canadá e Emirados Árabes. No Brasil, os vistos de turismo e negócios representam mais de 90% de todas as solicitações. No caso dos vistos para estudo ou trabalho, o processo tende a ser mais rápido.
Como Obter o Visto Americano
O primeiro passo para obter o visto é preencher um formulário online e pagar uma taxa de US$ 160. Depois disso, é necessário agendar uma entrevista na embaixada em Brasília ou em um dos quatro consulados, localizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre.
O visto de turismo tem validade de dez anos e pode ser usado em várias visitas aos EUA dentro desse período. No entanto, o tempo de permanência de cada viagem é determinado pela equipe de imigração que recebe o passageiro após o desembarque, geralmente não excedendo seis meses. Vale ressaltar que com o visto de turismo, não é permitido trabalhar ou estudar no país, exceto para cursos de baixa carga horária.
O Impacto da Pandemia da Covid-19
Durante o período da pandemia da Covid-19, de maio de 2020 a novembro de 2021, a emissão de vistos foi restrita. Os atendimentos priorizaram pessoas em situação de emergência, como as que se deslocavam para funerais de familiares ou para tratamento médico, além de vistos estudantis.
Com a retomada da análise de pedidos de forma geral, a demanda tem crescido. Em resposta, a embaixada dos EUA afirmou: “O tempo de espera para solicitar o visto de turista pela primeira vez está maior do que gostaríamos, ainda em função da demanda gerada pela pandemia da Covid-19. Estamos trabalhando para aumentar a disponibilidade de agendamentos. Contratamos novos funcionários, estamos fazendo horas extras e ampliamos o período para renovação de visto com isenção de entrevista de 12 para 48 meses“.
A embaixada espera ver resultados positivos até as férias de julho, mas alerta para a alta demanda. “O Brasil foi o segundo país com maior processamento de vistos do mundo em 2022. Atualmente, entrevistamos em média mais de 6 mil pedidos de visto por dia e, em 2023, projetamos ultrapassar 1 milhão de vistos processados. Recomendamos que as pessoas planejem suas viagens com antecedência e que cada solicitante verifique no nosso site se é elegível para renovação de visto sem necessidade de entrevista, o que é um processo bem mais rápido“.
Uma Contradição em Crescimento
Ao mesmo tempo que a espera aumenta, o escritório AG Immigration registrou um recorde na emissão de vistos. Foram realizadas 106 mil entregas no Brasil durante o mês de março, o maior volume já registrado pelo escritório. Apesar de uma queda de cerca de 20% em abril, com 85 mil vistos emitidos, esse número ainda representa o segundo maior volume na série histórica.
Segundo a AG Immigration, isso indica o forte desejo dos brasileiros de visitar os EUA, apresentando um desafio para a embaixada, já que a longa espera prejudica o turismo. O impacto é sentido diretamente em destinos como a Flórida, que tem o Brasil como um dos três países que mais enviam turistas.
O Custo Pessoal dos Tempos de Espera
Há cerca de seis meses, a US Travel Association, que representa mais de mil organizações e empresas da indústria de viagens dos EUA, lançou o portal USVisaDelays para reunir histórias de viajantes estrangeiros e empresários dos EUA sobre o custo pessoal dos tempos de espera.
Um dos relatos é da brasileira Flávia Pereira. “Estamos tentando obter um visto de turista. Iniciamos o processo em maio de 2022 e só conseguimos entrevista no consulado de São Paulo em março de 2024 porque somos quatro. Queremos levar nossos dois filhos para a Disneyworld“, contou.
A Necessidade de Melhorias
Ao lançar o portal, a US Travel Association cobrou, por meio de postagem nas redes sociais, que o governo norte-americano reconheça os impactos econômicos da situação e adote medidas para reduzir o tempo de espera. “Não podemos nos dar ao luxo de dissuadir viajantes e afastar atividades econômicas críticas“, diz o texto.
No último mês, o presidente da US Travel Association, Geoff Freeman, expressou sua preocupação com a demora para obter o visto, em entrevistas durante o IPW 2023, uma grande feira da indústria de viagens organizada anualmente pela entidade. “Os tempos de espera são inaceitáveis. Ninguém em sã consciência vai aguardar esse tempo para vir aos Estados Unidos quando há muitos outros mercados ao redor do mundo que estão competindo por esses viajantes“, disse à emissora norte-americana CNN.
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