Javier Milei, 52 anos, foi a surpresa que marcou as eleições internas da Argentina no último domingo (13). Com 30% dos votos, o economista consolidou-se como uma das figuras políticas mais importantes da nação. Mas quem é esse homem e por que sua subida ao poder é tão surpreendente?
Milei não é exatamente um novato nos holofotes. Conhecido por suas fortes opiniões, ele já era uma figura midiática convidada frequentemente para programas de televisão. Contudo, seu estilo provocador e polêmico fez com que poucos esperassem que ele se aventurasse seriamente na política. E, contra todas as expectativas, em 2021, ele assumiu seu primeiro cargo eletivo como deputado nacional.
Nas últimas duas décadas, a política argentina foi dominada principalmente por duas coalizões: a peronista e governante Unión por la Patria e a conservadora e opositora Juntos por el Cambio. Milei desafiou e deslocou ambas em termos de intenção de voto. Mesmo seus frequentes escândalos, propostas controversas e misticismo declarado não detiveram sua ascensão.
Quem é Javier Milei?
Auto-intitulado “anarco-capitalista” e “liberal”, Milei é uma figura complexa. Em meio à crescente inflação e pobreza da Argentina, ele conseguiu conquistar especialmente os jovens, que o veem como uma alternativa refrescante aos políticos tradicionais.
Seu relacionamento tenso com a família, particularmente com seus pais, de quem ele se afastou por mais de uma década devido a traumas passados, é um aspecto menos conhecido de sua vida. Sua irmã Karina é sua principal assessora e gestora financeira. Além dela, seus cães, particularmente Conan, que ele afirma ter clonado e com quem ele diz se comunicar, são centrais em sua vida.
O líder do La Libertad Avanza não apenas desafiou as expectativas, mas também transformou o mapa eleitoral argentino, tingindo-o de roxo, a cor do seu partido. Sua vitória foi particularmente marcante em províncias como Jujuy, Tucumán e Salta, onde seus candidatos anteriormente tinham performance inferior.
Financiamento e controvérsias
A rápida ascensão de Milei não veio sem controvérsias. A forma como o partido “La Libertad Avanza” é financiado tem sido objeto de especulação. Ano passado, houve denúncias de que o partido estava vendendo candidaturas, com investigações penais em andamento.
As propostas radicais de Milei, como privatizar empresas públicas, eliminar a educação gratuita e abolir o salário mínimo, são altamente debatidas.
Após os resultados, o mercado financeiro ficou em estado de alerta. Com o dólar disparando, houve preocupações sobre como a economia responderia. Milei, no entanto, foi rápido em acalmar os ânimos. Ele declarou: “Estamos preparados para governar hoje se necessário“, durante uma entrevista à Radio Continental.
Embora tenha enfatizado sua visão pró-mercado, Milei também ressaltou os desafios que vêm pela frente, especialmente com a queda do Ministro da Economia, Sergio Massa.
Reações políticas
Milei mostrou confiança em sua recente entrevista à rádio Continental, onde discutiu a possibilidade de governar e abordou a situação econômica da Argentina. Sua visão contraria as propostas do atual ministro da Economia e candidato da Unión por la Patria, Sergio Massa, e suas declarações têm o potencial de influenciar os mercados.
Milei se destaca não apenas por sua visão econômica, mas também pela sua abordagem contundente. Ele critica frequentemente as táticas de medo utilizadas por políticos tradicionais e destaca-se por sua postura direta e sem rodeios.
Ao comentar sobre as táticas de “campaña del miedo” (campanha do medo) frequentemente usadas na política argentina, ele declarou: “É uma técnica muito trilhada na política, que frente à carencia de propostas e ideias recorre a fomentar o medo nas pessoas“.
As eleições de outubro se aproximam, e a Argentina se prepara para uma luta acirrada pela presidência. Milei enfrentará adversários de peso, como Patricia Bullrich e Sergio Massa.
Bullrich, que celebrou uma vitória interna sobre Larreta, evitou demonstrar excesso de confiança, mencionando: “Temos a oportunidade de conduzir e liderar uma mudança profunda para a Argentina“. Sergio Massa, por outro lado, apesar da derrota, manteve o otimismo e falou de “um próximo governo de unidade nacional“.
