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Prêmio Nobel de Medicina 2023 vai para dupla que ajudou a desenvolver vacinas da Covid-19

O Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina de 2023 foi para a bioquímica húngara Katalin Karikó e o médico americano Drew Weissman, por pesquisas que auxiliaram no desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro, fundamentais no enfrentamento da Covid-19. Além de uma medalha de ouro de 18 quilates e um diploma, os premiados vão dividir 11 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 5 milhões.

A premiação ainda irá continuar ao longo dos próximos dias. Na próxima terça-feira (03) será anunciado o vencedor do Nobel de Física e, na quarta-feira (04) de Química. Em seguida, serão conhecidos os ganhadores em Literatura (05) e Paz (06). Na semana seguinte, será a vez do prêmio de Economia (09). A cerimônia de entrega dos prêmios ocorrerá no dia 10 de dezembro, data do aniversário de morte de Alfred Nobel, idealizador do prêmio.

Detalhes sobre o trabalho dos cientistas

Todas as células do nosso corpo exceto os óvulos e os espermatozoides carregam dentro do núcleo o genoma completo, o DNA. Nesse conjunto de cromossomos, estão “escritas” muitas das informações que definem os processos orgânicos, as características físicas e a propensão a determinadas doenças de cada um de nós. Porém, o DNA sozinho não faz nada: quando ele precisa enviar algum comando à célula, essa fita em dupla hélice gera uma cópia simples de determinado trecho do código genético.

Esse “xerox” genético vem numa fita simples e é o que conhecemos como RNA mensageiro, ou mRNA. Esse material então sai do núcleo e viaja até os ribossomos, no citoplasma da célula. Essa estrutura lê a “receita” genética do mRNA e fabrica uma proteína específica relacionada àquele comando escrito no DNA.

Desde que esse mecanismo foi conhecido, a partir dos anos 1960, os cientistas começaram a se perguntar: será que é possível aproveitar essas “mini-impressoras” que carregamos dentro das células para produzir proteínas específicas? O objetivo era que essas proteínas tivessem algum fim terapêutico, e pudessem servir para gerar uma resposta do sistema imunológico o que permitiria combater o crescimento de um tumor ou a invasão de um vírus mortal, por exemplo.

Entenda as dificuldades durante o processo

Vale ressaltar que é claro que a ideia não funcionou logo de cara. A principal barreira a ser superada tinha a ver com o fato de o mRNA ser uma molécula muito frágil, como se trata apenas de uma mensageira, ela logo se degrada no organismo. Nos primeiros experimentos, os mRNAs sintetizados em laboratório sequer conseguiam chegar perto das células. Eles estragavam pelo caminho, antes de cumprir a missão para o qual foram projetados.

Além disso, esses compostos se mostraram altamente inflamatórios. Eles geraram uma reação imunológica forte, que colocava em risco o próprio uso desse princípio na medicina. Essas dificuldades foram superadas graças a dois trabalhos distintos. O primeiro deles, comandado pelo médico americano Drew Weissman e pela bioquímica húngara Katalin Karikó, descobriu que algumas modificações básicas na estrutura do mRNA poderiam deixá-lo menos inflamatório.

Esse esforço, aliás, rendeu à dupla o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2023. O segundo, que envolveu vários grupos de pesquisa, como o comandado pelo bioquímico canadense Pieter Cullis, descobriu que “embrulhar” a fita de mRNA numa nanopartícula de lipídios (ou gordura) é uma forma eficaz de protegê-lo da degradação. Assim, essa molécula pode ser injetada, viajar pelo organismo e chegar às células onde cumprirá a função para a qual foi projetada.

“Com essas modificações, a ciência estava diante de uma ferramenta potente e poderosa”, disse o biomédico Joel Rurik, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, numa entrevista à BBC News Brasil em maio de 2023. “Trabalhar com o mRNA é algo relativamente simples e rápido. Basta fazer o download da sequência genética no computador e pedir para uma bioimpressora imprimir este material. Você consegue produzir toneladas dele sem a necessidade de usar uma única célula”, complementou o cientista.

“Falamos, portanto, de uma estratégia eficaz do ponto de vista dos custos, estável, com facilidade de distribuição e que pode ser usada de forma mais ampla ou fácil que muitas ferramentas terapêuticas ou de engenharia imunológica”, resumiu.

Confira os últimos ganhadores do Prêmio Nobel

No ano passado, o prêmio foi concedido ao pesquisador sueco Svante Pääbo por desvendar os genomas de hominínios extintos, ou seja, membros desaparecidos do grupo de primatas ao qual pertencem os seres humanos. Entre outros feitos, ele coordenou em 2010 os trabalhos que sequenciaram o DNA completo dos neandertais, desaparecidos há cerca de 40 mil anos.

Em 2021, a láurea ficou com o americano David Julius e o libanês de origem armênia Ardem Patapoutian. Os dois elucidaram os mecanismos que permitem que o sistema nervoso capte estímulos de temperatura e toque na pele. Em 2020, o Nobel de Medicina foi dividido por três pesquisadores pela descoberta do vírus da hepatite C. Os americanos Harvey Alter e Charles Rice, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) e da Universidade Rockefeller, e o britânico Michael Houghton foram os laureados.

Já em 2019, William G. Kaelin, da Universidade Harvard, Peter J. Ratcliffe, da Universidade de Oxford, e Gregg L. Semenza, da Universidade Johns Hopkins, foram os premiados por pesquisas sobre como as células percebem e alteram o comportamento de acordo com a disponibilidade de oxigênio. Em 2018, James P. Allison e de Tasuku Honjo foram laureados por descobertas ligadas à imunoterapia. Ou seja, ao combate do câncer com drogas que potencializam a função do sistema imunológico.

Entre as descobertas premiadas no passado estão as da estrutura do DNA por James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins (1962), a da penicilina por Fleming e outros (1945), a do ciclo do ácido cítrico por Hans Krebs (1953) e a da estrutura do sistema nervoso por Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal (1906).

“É meu desejo que, ao atribuir os prêmios, nenhuma consideração seja dada à nacionalidade, mas que o prêmio seja concedido à pessoa mais digna, sejam ou não escandinavos”, diz o testamento de Alfred Nobel. Apesar do desejo, a concentração das premiações científicas em países ricos é expressiva. Isso sem contar o pequeno número de mulheres premiadas, dos 227 laureados em Medicina ou Fisiologia desde 1901, somente 13 são mulheres.

Como é escolhido o ganhador do Prêmio Nobel

O Prêmio Nobel teve início com a morte de Alfred Nobel, inventor da dinamite. Em 1895, em seu último testamento, Nobel registrou que sua fortuna deveria ser destinada à construção de um prêmio, o que foi recebido por sua família com contestação. O primeiro prêmio foi dado em 1901.

A escolha do vencedor do Prêmio Nobel na área de fisiologia ou medicina começa por indicações de um grupo de 50 pesquisadores ligados ao Instituto Karolinska, na Suécia. Alfred Nobel, em seu testamento, destinou à instituição a missão de eleger pesquisadores que tenham feito notáveis contribuições ao futuro da humanidade.

O processo tem início no ano anterior à premiação, mais especificamente em setembro, com o envio de convites para indicar um nome para o prêmio, o que deve ocorrer até o dia 31 de janeiro. Podem indicar nomes os membros do Comitê do Nobel do Instituto Karolinska; profissionais da área de biologia e medicina ligados à Academia Real Sueca de Ciências; vencedores dos prêmios de fisiologia ou medicina ou de química; professores titulares de medicina de instituições suecas; norueguesas; finlandesas, islandesas ou dinamarquesas; professores em cargos semelhantes em outras faculdades de medicina de universidades de todo o mundo. Vale lembrar que estas devem estar entre as selecionadas pelo Comitê do Nobel, com o objetivo de assegurar a distribuição adequada da tarefa entre vários países; e acadêmicos e cientistas selecionados pelo Comitê do Nobel. Autoindicações não são aceitas.


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