Política

Em vídeo, Bolsonaro convoca ministros para “agirem” antes das eleições

A Polícia Federal (PF) divulgou nesta quinta-feira (08) um vídeo obtido durante a Operação Tempus Veritatis (Tempo da Verdade), que mostra uma reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e alguns de seus principais ministros. Na gravação, realizada em 5 de julho de 2022, Bolsonaro pede para seus ministros o ajudarem a “agir antes das eleições“.

Durante o encontro, que ocorreu apenas três meses antes do primeiro turno das eleições presidenciais, Bolsonaro demonstra irritação e pessimismo em relação às suas chances de reeleição. Ele argumenta que é necessário “reagir” antes das eleições para evitar possíveis consequências negativas para o Brasil.

De acordo com informações, inicialmente apuradas pela jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, o vídeo foi apreendido na casa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, preso em maio de 2023. A gravação, assim como a delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, faz parte da investigação da Operação Tempus Veritatis.

Na reunião ficou registrada a fala de Bolsonaro solicitando que seus subordinados reajam, frente as suas “baixas” chances de reeleição como presidente da República. “Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, afirma o então presidente.

Gravação estava no computador apreendido de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, preso em maio de 2023. (Imagem: Reprodução)
Gravação estava no computador apreendido de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, preso em maio de 2023. (Imagem: Reprodução)

Em outro trecho do encontro, Bolsonaro reitera a necessidade de ação para evitar o que entende que ocorrerá no pleito. “Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Todos aqui, como todo o povo ali fora, têm algo a perder. Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintando”, alerta o mandatário em tom de irritação. “Eu parei de falar em voto impresso e eleições há umas 3 semanas. Vocês estão vendo agora que… eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”, convoca Bolsonaro a seus ministros.

Desconfiança em relação aos Ministros do STF

Além das preocupações sobre as eleições, Bolsonaro também critica os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a imparcialidade de alguns magistrados, incluindo os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. “Alguém acredita em [Edson] Fachin, [Luís Roberto] Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar, levanta o braço. Acredita que são pessoas isentas?”, iniciou Bolsonaro. “Se não tiver argumento para me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Está no lugar errado. Se está achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar, como ganhei em 2018 – e vou provar –, o cara está no lugar errado”, concluiu o presidente, que permanece constantemente irritado em outros momentos da reunião.

Quem fez parte da reunião com Bolsonaro?

Na reunião, estavam presentes diversos nomes importantes do governo, entre eles os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno, além de outros ministros como Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres, Paulo Guedes e Mário Fernandes. Todos, exceto Guedes, foram alvos da Operação Tempus Veritatis.

Deflagrada na última quinta-feira (08), a operação cumpriu 33 mandados de busca e apreensão, 4 mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares. A ação da Polícia Federal foi autorizada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes.

A Operação Tempus Veritatis acontece no curso das investigações a cerca da tentativa de golpe de Estado, ocorridas em 2023, após a vitória do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além das falas de Bolsonaro, a reunião também contou com falas de outros membros do governo, em geral endossando a perspectiva do então presidente.

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