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Neurotecnologia inovadora restaura a fala em pacientes com ELA

O sistema desenvolvido pelo BrainGate envolve a implantação de sensores no cérebro, especificamente no giro pré-central, uma área crucial para a coordenação da fala.

Um novo avanço em neurotecnologia pode transformar a vida de milhões de pessoas que sofrem de esclerose lateral amiotrófica (ELA) e outras condições neurológicas que afetam a capacidade de comunicação. Um estudo recente, conduzido por cientistas do consórcio de pesquisa BrainGate e publicado no prestigiado New England Journal of Medicine, apresentou uma interface cérebro-computador (BCI) capaz de traduzir sinais cerebrais em fala com até 97% de precisão. Esta tecnologia oferece uma nova esperança para aqueles que perderam a habilidade de se comunicar.

A esclerose lateral amiotrófica, também conhecida como doença de Lou Gehrig, é uma condição neurodegenerativa que afeta as células nervosas responsáveis pelo controle dos movimentos musculares. Com o tempo, a ELA leva à perda gradual da mobilidade e da fala, deixando os pacientes em um estado de paralisia quase total. Para muitos, essa perda de comunicação é um dos aspectos mais devastadores da doença, causando isolamento social e psicológico.

Até agora, as opções para restaurar a comunicação eram limitadas, e mesmo as tecnologias existentes, como dispositivos de rastreamento ocular ou sintetizadores de voz, eram muitas vezes lentas e frustrantes. A introdução da BCI, portanto, representa um avanço monumental.

A tecnologia por trás da interface cérebro-computador

O sistema desenvolvido pelo BrainGate envolve a implantação de sensores no cérebro, especificamente no giro pré-central, uma área crucial para a coordenação da fala. Esses sensores, compostos por microeletrodos, registram a atividade cerebral associada às tentativas de falar e transmitem esses sinais a um computador, que os decodifica em tempo real.

Cientistas desenvolveram uma interface cérebro-computador que traduz sinais cerebrais em fala, oferecendo esperança a pacientes com ELA
Cientistas desenvolveram uma interface cérebro-computador que traduz sinais cerebrais em fala, oferecendo esperança a pacientes com ELA (Imagem: University of California Regents)

Essa decodificação não é simples. Ela envolve a tradução de padrões complexos de atividade cerebral em fonemas — os sons básicos que compõem as palavras. Esses fonemas são então organizados em palavras e frases completas, que são convertidas em texto e, finalmente, em fala sintetizada.

O processo de treinamento do sistema para reconhecer os padrões cerebrais do usuário é intensivo. No caso do participante do estudo, Casey Harrell, um homem de 45 anos com ELA, o sistema foi capaz de atingir uma precisão de 99,6% em um vocabulário limitado de 50 palavras após apenas 30 minutos de uso. À medida que o vocabulário foi expandido para 125.000 palavras, a precisão permaneceu impressionante, alcançando 90,2% após pouco mais de uma hora de treinamento adicional.

O impacto real na vida dos pacientes

Para Casey Harrell e outros participantes do ensaio clínico, a BCI não é apenas uma inovação tecnológica — é uma reconexão com o mundo. Desde a ativação do dispositivo, Harrell pôde se comunicar novamente de forma eficaz, falando com amigos, familiares e cuidadores, algo que ele não conseguia fazer há anos.

A resposta emocional foi imediata e profunda. Harrell descreveu a experiência como um renascimento, uma chance de voltar a viver e se integrar à sociedade. “Não ser capaz de se comunicar é tão frustrante e desmoralizante. É como se você estivesse preso”, disse Harrell. “Essa tecnologia ajudará as pessoas a voltarem à vida e à sociedade.”

O estudo liderado por David Brandman, neurocirurgião, e Sergey Stavisky, neurocientista, ambos ex-alunos da Universidade Brown e membros do corpo docente da UC Davis Health, representa apenas o início de uma nova era na neuroprótese de fala. Brandman e sua equipe acreditam que esta tecnologia pode ser refinada ainda mais, aumentando a precisão e a velocidade da decodificação da fala, e potencialmente permitindo que pacientes com outras condições neurológicas, como derrames ou lesões cerebrais traumáticas, recuperem a capacidade de se comunicar.

Segundo John Ngai, diretor da Brain Research Through Advancing Innovative Neurotechnologies® Initiative (The BRAIN Initiative®), do National Institutes of Health, que financiou fases anteriores do consórcio BrainGate, “O campo da interface cérebro-computador avançou notavelmente tanto em precisão quanto em velocidade. Este último desenvolvimento aproxima a tecnologia de ajudar pessoas ‘presas’ pela paralisia a recuperar sua capacidade de se comunicar com amigos e entes queridos.”

Considerações éticas

Embora os avanços sejam promissores, Antes que a BCI seja amplamente disponibilizada, alguns problemas precisam ser resolvidos. A complexidade do procedimento cirúrgico, os custos associados e as considerações éticas sobre a invasividade dos implantes cerebrais são questões que os pesquisadores continuam a explorar.

Além disso, há a questão da privacidade dos dados cerebrais. Como esses dispositivos capturam pensamentos e intenções, a segurança e a confidencialidade das informações processadas tornam-se preocupações críticas.

Thiago Santos

Sou um estudante de Ciências e Tecnologia, apaixonado por inovação e sempre antenado nas últimas tendências tecnológicas. Acredito que o futuro está intrinsecamente ligado ao avanço da ciência, e estou empenhado em contribuir para esse progresso. Além dos estudos, sou um apaixonado por cinema e séries. Nos momentos de lazer, valorizo a companhia dos amigos. Gosto de compartilhar risadas, experiências e construir memórias com aqueles que são importantes para mim. Essa convivência é fundamental para equilibrar minha busca por conhecimento e meu amor pelo entretenimento e tecnologia.

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