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Álcool em enxaguantes bucais pode favorecer câncer oral, aponta pesquisa

Álcool na composição do produto pode levar a desequilíbrio das bactérias da cavidade oral, com aumento na quantidade de microrganismos relacionados as doenças gengivais e periodontais. E já é conhecido que a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas pode provocar câncer de colorretal e esôfago.

O uso de enxaguantes bucais é amplamente recomendado por cirurgiões-dentistas como um complemento importante na manutenção da saúde bucal, especialmente em tratamentos de condições como gengivite, periodontite e em cuidados pós-operatórios. No entanto, é fundamental que os consumidores prestem atenção à formulação desses produtos, pois alguns ingredientes, como o álcool, podem trazer sérios riscos à saúde oral.

Um estudo publicado em junho deste ano no Journal of Medical Microbiology trouxe à tona preocupações significativas sobre o uso de enxaguantes bucais contendo álcool. De acordo com a pesquisa, o uso regular desses produtos pode causar desequilíbrio na microbiota oral, favorecendo o desenvolvimento de doenças periodontais e até de câncer oral.

Nesses produtos, o grande problema do álcool, que é o responsável por aquela sensação de ardência causada por certos enxaguatórios orais, está no fato de destruir tanto bactérias benéficas quanto prejudiciais, levando a um desequilíbrio nesse ecossistema que chamamos de microbiota oral”, explicou ao N10 Notícias o cirurgião-dentista Dr. Mario Sergio Giorgi, consultor científico da Curaden Swiss.

O estudo, conduzido ao longo de seis meses, avaliou os efeitos do uso de enxaguantes bucais com e sem álcool em participantes, que alternaram entre os dois tipos de produtos a cada três meses. Durante o estudo, foram coletados esfregaços da cavidade oral antes e após cada período de três meses. Os resultados mostraram que o uso de enxaguante bucal com álcool levou a um aumento significativo das bactérias Fusobacterium nucleatum e Streptococcus anginosus.

Ambas são bactérias naturalmente presentes na cavidade oral. O problema é que, em casos de desequilíbrios na microbiota oral como o causado pelo álcool, podem se proliferar rapidamente e, em grandes quantidades, favorecer o agravamento de doenças periodontais, além de também estarem associadas com o desenvolvimento de câncer bucal”, destacou Dr. Giorgi.

Além disso, os pesquisadores observaram uma diminuição na quantidade de Actinobacteria, um tipo de bactéria essencial na produção de óxido nítrico no organismo, substância que atua como vasodilatador e ajuda a manter a pressão arterial controlada. “Esse tipo de bactéria está envolvido em um processo de produção de óxido nítrico no organismo, que atua como vasodilatador para manter a pressão arterial controlada. Logo, essas bactérias desempenham um papel importante na manutenção da saúde cardiovascular”, acrescentou.

O cirurgião-dentista destacou ao N10 Notícias que o uso de enxaguantes bucais não é a causa direta dessas doenças, mas pode favorecer seu desenvolvimento, especialmente em indivíduos com fatores de risco como tabagismo, diabetes, alimentação inadequada, higiene oral deficiente e histórico de doenças periodontais. “Mas sabemos que o uso de enxaguatório oral tem outras consequências. Por exemplo, seu uso excessivo pode danificar o esmalte dental, tornando-o mais fraco e poroso, o que pode levar a sensibilidade e facilitar o aparecimento de manchas e cáries. Além disso, pode causar um ressecamento da mucosa oral, interferindo na produção de saliva, sua capacidade protetora e equilíbrio da microbiota oral”, alertou Dr. Giorgi.

Apesar das limitações do estudo, como a amostra limitada e a falta de informações detalhadas sobre os hábitos de vida dos participantes, os resultados sugerem que o uso de enxaguantes bucais com álcool deve ser evitado. “Embora a grande maioria dos enxaguatórios orais disponíveis no mercado contenham álcool em sua formulação, existem alguns produtos, como a linha PerioPlus da Curaprox, que não possuem o ingrediente na composição”, explicou o Dr. Giorgi.

Ele também observou que a Clorexidina (CHX), um ingrediente amplamente usado em enxaguantes bucais por suas propriedades antimicrobianas, pode ter efeitos colaterais, como pigmentação do esmalte dental, sabor desagradável e alterações no paladar, o que pode reduzir a adesão ao tratamento.

Por isso, ele sugere a escolha de produtos que combinem Clorexidina com Citrox, pois esta combinação não apenas melhora a eficácia, mas também minimiza os efeitos adversos. “O Citrox é composto por bioflavonóides naturais extraídos da casca da laranja amarga que potencializam o efeito antisséptico, antifúngico e antiviral da Clorexidina. Evidências mostram que a combinação da Clorexidina com Citrox é mais efetiva quando comparada à Clorexidina de forma isolada, sendo extremamente eficaz contra uma ampla gama de microrganismos e dificultando o acúmulo de biofilme oral, porém, sem causar impacto negativo no paladar ou no esmalte dos dentes”, explicou.

Por fim, Dr. Giorgi enfatizou a importância de que o enxaguante bucal seja sempre indicado por um cirurgião-dentista, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. “Para uso prolongado, por exemplo, recomendamos o PerioPlus Balance, que possui uma menor concentração do ativo (0,05%)”, orientou. Ele também lembrou que o enxaguante bucal deve ser visto como um complemento à higiene oral, e não como um substituto para a escovação e o uso de fio dental.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: rafael@oportaln10.com.br

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